sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Home alone

Chegou o dia que eu tanto temia: o dia de minha mãe ir oficialmente morar longe de mim.

Eu não estava sofrendo muito, talvez porque fosse difícil vislumbrar que esse dia chegaria de fato. Apesar disso, de vez em quando eu dava umas crises chorando dentro do carro, pensando em como iria sentir falta dela.

Bom, chegou dia 07 e eu estava preparada pra ele. É claro que a gente nunca realmente se prepara para sofrer, mas acho que lidei bem com a situação. Chorei quando dei o abraço final e fiquei meio séria e compenetrada no forró que fui depois de deixá-la no aeroporto. Mas em geral, estou orgulhosa por não ter entrado na mala dela escondida, com pavor de meter a tesoura no cordão umbilical.

Chegar em casa e ver que eu estava sozinha não foi mole. Bateu um medo, sabe? De não dar conta das coisas como minha mãe dava. Ela é tão organizada, cheia de iniciativa, corajosa, ativa... eu sou tão bagunceira, desorganizada e folgada. E fui mimada por esse excesso de atitude dela, porque acabava que ela sempre resolvia tudo. Fiquei com medo de não lembrar de comprar papel higiênico, pasta dental, leite. De não saber o que fazer quando o gás acabar, quando uma lâmpada queimar, quando aparecer um abacaxi para descascar. Fiquei com medo dos meus defeitos me engolirem e eu não conseguir ser uma adulta de verdade.

Me lembrei dos tempos de Londres. Difíceis aqueles tempos! Dividindo casa com oito estranhos, dormindo no mesmo quarto que uma tagarela polonesa que não me deixava dormir, contando moedinha para pagar o aluguel, sem poder sair de casa para me divertir por causa de grana. Mas eu sobrevivi, né? Foi um perrengue, mas me virei. E sozinha. So I think I'll be fine. It can't be harder than that. Além disso, tenho meu pai e meus amigos por aqui, é bem mais fácil do que lá, onde eu estava absolutamente sozinha.

Qualquer barulho me assustava. E dormi feito tartaruga, toda enroladinha dentro do casco, como se estivesse me protegendo do bicho papão - porque agora minha mãe não estaria lá para matá-lo.

Tenho 27 anos, eu sei que não deveria ter mais medo de bicho papão. Sei que já deveria ter pensado em sair de casa ou até já saído. Eu sempre achei que só fosse me separar dos meus pais quando eu casasse. Agora que vejo que casamento está mais longe dos meus planos do que o Brasil da China, penso que realmente esse era o único jeito de eu ir morar sozinha. É lógico que eu ajudava minha mãe a pagar as contas de casa, mas é tão confortável colo de mãe, comida de mãe, apoio de mãe... Não é só pelo lado financeiro, absolutamente não. É estar quentinho debaixo da asa da mamãe ganso.

Sinceramente, acho que a parte mais difícil vai ser daqui a umas duas semanas, quando eu notar que minha mãe não foi passar férias, e sim realmente está morando a 2000km de distância. Ou talvez eu seja errada e em duas semanas esteja completamente adaptada. Só o tempo e a vida vão dizer.

É difícil e aterrorizante pensar nos próximos dias e nos próximos problemas. Mas vou enfrentá-los como enfrentei todos os outros problemas na minha vida: fé em Deus, força na peruca!

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